Carta 5

 

 

Jaraguá, 27 de novembro de 1995

 

Exmo. Senhor Bispo Dom Manoel Pestana Filho e Revmos.

Sacerdotes do Conselho Presbiteral: “Desça sobre vós a bênção do Senhor!” (Sl 128, 8).

 

Escrevo-lhes esta por alguns motivos:

 

Agradecer de coração ao Revmo. Pe. Andréas pelas duas últimas palestras dadas nas duas últimas reuniões do clero. Sobre os Santos Anjos, CTL, que fez muito bem para a minha vida espiritual, e pude enriquecer a vida dos meus paroquianos usando parte da palestra, principalmente aquela parte onde devemos chamar o anjo das pessoas que estão afastadas da igreja e também para acompanhar as que vão; graças ao bom Deus todos estão usando desse maravilhoso santo meio; e também da palestra tão exata que foi dada na última reunião no Convento de São Francisco de Assis, usando um método maravilhoso para ajudar cada sacerdote a examinar a consciência, principalmente sobre a inveja que existe entre o clero, que realmente escandaliza o povo de Deus e faz muitos padres se isolarem da vida da Diocese. Santo Agostinho via na inveja “o pecado diabólico por excelência”, e Da inveja nascem o ódio, a maledicência, a calúnia, a alegria causada pela desgraça do próximo e o desprazer causado por sua prosperidade (São Gregório Magno). É uma contradição monstruosa um sacerdote ter inveja do outro; gostaria imensamente que o Revmo. falasse mais sobre esse assunto.

Aplaudo também a extraordinária ideia do Revmo. Pe. Andréas em apresentar uma folha dando abertura para os outros sacerdotes se manifestarem sobre os assuntos que estão na mesma.

Manifesto o meu descontentamento em relação ao vigário da Catedral Bom Jesus, Luiz Ilc, que vem jogando indiretas, principalmente nas duas últimas reuniões do clero, a respeito do maldito e escandaloso carnaval. Ele elogia o carnaval, festa do demônio, e me critica por condenar tal festa.

Ele poderia muito bem dizer que sou eu o padre que nega absolvição para quem vai no carnaval; não tenho medo de ser acusado publicamente, principalmente quando, com a graça de Deus, consegui afastar do carnaval 70% de pessoas que pecavam gravemente nesses dias. Nego a absolvição depois de adverti-los, como fazia São João Crisóstomo aos católicos que frequentavam os espetáculos (cf. Sermão contra os espetáculos, Cirilo Folch Gomes, OSB, Antologia dos Santos Padres).

Na última reunião ele falou do carnaval como se essa festa fosse uma diversão, e que não teria nada de grave participar da mesma. Para um padre que encosta o rosto no rosto das penitentes no confessionário, que cobiça os seus seios, que agarra em suas mãos e outras coisas... é claro que o carnaval é uma festa "santa".

A Santa Igreja Católica ensina totalmente o contrário; a mesma vê no carnaval um mar de pecados graves onde os pecadores vão nesses dias mergulhar as suas paixões.

a) O carnaval é causa de escândalo: Ai do mundo por causa dos escândalos! Eles são inevitáveis, mas ai do homem que os causa! (Mt 18, 17), e Jesus diz ainda: Se a nossa mão, pé ou olho nos leva ao pecado, é melhor cortá-los ou arrancá-los do que sermos lançados no inferno.

O carnaval é a festa do escândalo! Como um sacerdote poderia ficar tranquilo diante de tamanha ofensa a Deus?

Gostaria de saber do vigário Luiz Ilc, qual é a diferença em olhar uma revista pornográfica e uma mulher nua dançando em praça pública ou até sobre carros? O que é mais grave: o beijo de língua ou o sexo explícito cometido no carnaval em plena luz do dia diante de pessoas inocentes?

b) Decisões de Concílios da Igreja que em todos os tempos condenaram os bailes (imagine o carnaval de hoje).

Concílio de Constantinopla (ano de 543): Os bailes públicos ficam proibidos sob pena de excomunhão.

Outros Concílios chamavam os bailes de coisas infames, a grande loucura, fraudes e artifícios do demônio. O que diriam estes Concílios sobre o carnaval de hoje e dos padres que o apoiam?

O Concílio X de Baltimore (ano de 1869) determinou o seguinte: “É nosso dever de pastores admoestar-vos ainda uma vez a que eviteis a nova espécie de danças, na qual a ocasião de pecar é cada vez mais frequente. Todo este gênero de diversões é tanto mais perigoso quanto muitos o julgam inocente e a ele se entregam como se não professassem a nossa Religião. No entanto a Revelação Divina, a sabedoria antiga, a experiência e a razão mesma clamam uníssonas advertindo contra tais diversões que, ainda quando contidas dentro dos limites do pudor, cria sempre maior ou menor perigo às almas cristãs”.

c) Os Santos Padres e os bailes (o que diriam os mesmos do maldito carnaval de hoje?)

Santo Efrém: "Quem inventou os bailes? Foi São Pedro? Foi São João ou alguns dos Santos? Não por certo, porém o demônio, inimigo das almas!

Onde há bailes, há tristeza dos anjos e júbilo dos demônios.

Não é possível saltar e bailar aqui e gozar depois das eternas alegrias do céu, pois o Senhor disse: 'Ai de quem ri agora, porque chorará e ficará triste!'"

São João Crisóstomo: “Os bailes são escolas de paixões impuras”.

Santo Ambrósio: “Os bailes são coro de iniquidade, escolho da inocência e sepulcro do pudor. Que vão dançar as boas filhas de mães infames, que queiram assemelhar-se a elas; mas as que são castas, guardem-se dos bailes, se não querem perecer”.

d) Os santos e o maldito carnaval.

O Bem-aventurado Henrique Suso guardava um jejum rigoroso a fim de expiar as intemperanças cometidas nesse tempo.

São Carlos Borromeu castigava o seu corpo com disciplinas e penitências extraordinárias nos dias de carnaval.

São Filipe Néri, durante essa festa pagã, convocava o povo para visitar com ele os santuários em exercícios de devoção.

Santo Afonso Maria de Ligório dizia: “Se um só pecado, como dizem as Escrituras, já desonra a Deus, o injuria e o despreza; imagina quanto o Divino Redentor deve ficar aflito neste tempo em que são cometidos milhares de pecados de toda a espécie, por toda a condição de pessoas”.

Santa Gertrudes conta que certa vez viu num êxtase o Divino Redentor ordenando que o Apóstolo São João escrevesse com letras de ouro os atos de virtudes feitos por ela no carnaval, para recompensá-la com graças especialíssimas.

A Bem-aventurada Faustina Kowalska escreve: “Nestes dois últimos dias de carnaval conheci um grande acúmulo de castigos e pecados. O Senhor deu-me a conhecer num instante os pecados do mundo inteiro cometidos neste dia. Desfaleci de terror e, apesar de conhecer toda a profundidade da misericórdia divina, admirei-me que Deus permita que a humanidade exista”. Será que esses pecados são veniais? Claro que não, são pecados mortais.

São Caetano de Thiene morreu  de desgosto ao ver Nosso Senhor tão ofendido.

Diante daquilo que a Santa Mãe Igreja ensina, é insuportável ouvir o vigário da Catedral, Luiz Ilc, jogar indiretas nas reuniões do clero. São João Maria Vianney para afastar as pessoas das danças imorais, negava ou adiava a absolvição, não por maldade, mas para cortar o mal pela raiz.

Gostaria de saber do vigário se é certo absolver alguém que não está arrependido do escândalo que deu e também não tem propósito de emendar de vida?

Hoje, infelizmente, muitos padres estão engordando almas para o inferno.

O carnaval é também a fonte principal do aborto, adultério, fornicação, bebedeiras, drogas e outros. Quem apoia o carnaval é cúmplice de todos esses pecados.

Gostaria que o senhor Bispo apoiasse a iniciativa do Pe. Andréas sobre a folha que foi distribuída na última reunião. A formação que recebi no Seminário de Anápolis e no Mosteiro da Santa Cruz, jamais a abandonarei.

Permito que essa carta seja lida em qualquer reunião.

Atenciosamente,

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP(C)

 

 

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