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Na véspera do primeiro dia do encontro histórico do
Vaticano sobre assédio sexual dentro da Igreja, o papa Francisco
excomungou o padre goiano Jean Rogers Rodrigo de Sousa, conhecido
como Rodrigo Maria, de 45 anos. Ele é suspeito de abusar sexualmente
de ex-freiras e ex-noviças. A excomunhão foi formalizada na
quarta-feira, dia 20, segundo o jornal Folha de S.Paulo.
O padre é acusado de estuprar pelo menos 11 mulheres
ligadas à organização que ele fundou, a Fraternidade Arca de Maria.
Atualmente, ele não tem mais ligação com a instituição. O sacerdote
goiano passou os últimos anos pulando de diocese em diocese, e hoje
em dia congregava fora do Brasil, em Ciudad del Este, no Paraguai.
Com a decisão do Papa, o goiano perde o status
eclesiático e não pode mais usar o hábito e celebrar missas.
Ordenado há 19 anos, ele deixa de ser padre — a punição mais grave
que a Igreja Católica pode dar a um membro do clero.
A medida é resultado de uma investigação de meses que
o Vaticano conduzia.
Em comunicado, o monsenhor Guillermo Steckling,
responsável pela Diocese de Ciudad del Este, afirma que o sacerdote
“foi dispensado de suas obrigações clericais” pelo Pontífice. O
monsenhor já havia afastado o padre de suas funções. Agora, a
decisão é definitiva.
Em setembro passado, em entrevistas, o padre goiano
negou as acusações e afirmou ser alvo de calúnia.
A decisão foi tomada em um momento em que o Papa
Francisco debate, no Vaticano, os casos de assédio e abuso sexual
cometidos por membros do clero que têm abalado a Igreja Católica nos
últimos anos. O encontro é considerado um marco histórico no
Catolicismo, já que é a primeira vez que tal tema é debatido em uma
cúpula da Igreja.
Entenda
O jornal revelou em setembro as acusações que
pairavam desde 2006 contra Jean, conhecido como padre Rodrigo Maria.
Na época, ele liderava uma comunidade católica em Anápolis (GO), a
Arca de Maria, e foi acusado de fazer lavagem cerebral em moças
jovens que recrutava para a missão religiosa.
Uma ex-noviça na Arca narrou à reportagem que ela e
colegas raspavam a cabeça e passavam a rejeitar as famílias e, se
cometessem alguma “rebeldia”, eram castigadas pelo padre –que,
segundo ela, as submetia a dieta a pão e água.
Depois vieram denúncias de conduta sexual criminosa,
de estupro a masturbação no meio de um papo virtual.
Uma ex-freira disse à reportagem, pedindo para ter
seu nome preservado, que o episódio aconteceu há cerca de cinco
anos, quando os dois se falavam pela internet. “Aí ele baixou [a
roupa] e se masturbou, e nisso eu imediatamente desliguei o Skype.”
Antes, ela tirou um print da conversa —a imagem foi anexada aos
autos do processo canônico.
Há processos contra o ex-padre correndo em sigilo na
Justiça comum, todos ainda sem veredicto. No ano passado, Jean disse
à reportagem que era alvo “de calúnia há algum tempo, razão pela
qual estou processando criminalmente 11 [mulheres que o acusam]”.
A reportagem não conseguiu novo contato com ele ou
seu advogado nesta quarta. Em setembro, ele havia dito que “quem tem
feito as falsas acusações tem atrás de si interesses de organizações
mais poderosas”, que “instrumentalizam essas pessoas, que possuem
problemas de ordem psicológica”.
Citou, então, “casos de homossexualidade” de duas
mulheres que o denunciaram.
Seu conservadorismo teria motivado os atos
revanchistas, disse. Em redes sociais, já elogiou Jair Bolsonaro e
pediu “uma Ave Maria para livrar o Brasil do comunismo”.
Jean continuou a usar o hábito clerical e a pregar
como padre, desobedecendo a suspensão imposta em 2018 pela Diocese
de Ciudad del Este.
Seu canal de YouTube, em que costumava postar sermões
e opiniões políticas, não deixou de ser atualizado.
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